FREE TO TOTAL PSA RATIO IN THE DIAGNOSIS OF PROSTATE CANCER

NELSON RODRIGUES NETTO JR, JEAN ADONIS IKONOMIDIS, PEDRO LUIZ CORTADO, MAURÍCIO RODRIGUES NETTO, CÉSAR NARDY ZILLO

Beneficência Portuguesa Hospital, São Paulo, SP, Brazil

ABSTRACT

     Purpose: To assess the variation on the diagnostic rate of prostate cancer, using two different cut-off levels of the free to total PSA ratio; 15 and 20%.
     Material and Methods: Between January 1997 and March 1999, the records of 131 patients with histological diagnosis of prostate cancer were reviewed. A total of 75 men, mean age of 63 years, with PSA levels between 4 and 10 ng/ml and normal digital rectal examination were included in this study. The data of these patients were analyzed in two different perspectives (situations) according to the free to total PSA ratio cut-off. In situation A, the free to total PSA ratio was 20%, and in situation B was 15%. The patients were then divided into 3 groups for each situation. For situation A: group 1, the ratio was less than 10%; group 2, the ratio was between 11 and 20% and in group 3 the ratio was greater than 20%. For situation B: group 1, the ratio was less than 10%; group 2 ratio between 11 and 15% and group 3 ratio greater than 15%.
     Results: A total of 50.67% of the patients presented a free to total PSA ratio lesser than 10%; 38.66% between 11 and 20% and 10.67% greater than 20% in situation A. In situation B a total of 50.67% had a PSA ratio lesser than 10%, 17.33% presented a ratio between 11 and 15% and 32% had a PSA ratio greater than 15% (p < 0.01).
     Conclusion: There was a statistical difference in the detection of prostate cancer using the cut-off of 20% of free to total PSA ratio. The use of a cut-off of 15% of free to total PSA ratio can underscores the incidence of prostate cancer in patients with total PSA level between 4-10 ng/ml.

Keywords: prostate, prostate cancer, diagnosis, PSA, free to total PSA ratio
Braz J Urol, 26: 171-175, 2000

INTRODUÇÃO

     A partir de 1987, a determinação sérica do antígeno específico prostático (PSA) vem sendo largamente utilizada no diagnóstico precoce do câncer da próstata (CAP). Entretanto, o PSA não pode ser considerado como um bom marcador tumoral, pelo fato de ser tecido específico e não tumor específico. Outro fator, é a relativa perda de especificidade, quando os níveis séricos estão entre 4 e 10 ng/ml a chamada “zona cinzenta”, onde há prevalência de 25% de câncer da próstata (1). A maioria dos tumores prostáticos, órgãos confinados, apresenta níveis de PSA menor que 10 ng/ml, enquanto que mais da metade dos tumores avançados têm PSA maior que 10 ng/ml (2). As biópsias da próstata vêm sendo indicadas, portanto, para a detecção do câncer da próstata em estádios potencialmente curáveis, em casos cujos níveis de PSA são cada vez menores, o que leva a uma quantidade numerosa de biópsias desnecessárias (3).
     Tendo em vista essas limitações, diversos conceitos foram idealizados para incrementar a especificidade do PSA, sem perder sua sensibilidade, incluindo a velocidade, a densidade e a correlação entre os níveis do PSA e a idade do paciente. Recentemente, quando os valores do PSA se encontram entre 4 e 10 ng/ml, o uso da referência idade específica para o PSA total além do toque, contribuiu para aumentar significativamente a especificidade do PSA, diminuindo em até 30% o número de biópsias desnecessárias (4). E quando se utilizou a relação livre/total do PSA obteve-se uma diminuição de 35% da quantidade de biópsias, embora houvesse uma perda de 11% dos casos (5). Surgiu a questão, qual seria o nível de corte da relação PSA livre/total para se indicar a biopsia da próstata. Alguns autores preconizam 25%, enquanto outros utilizam 15, 18 e 20% (6). Um aspecto muito importante é que os níveis de corte variam de acordo com o método de dosagem do PSA (6-8). A maioria dos métodos utilizados pelos laboratórios no Estado de São Paulo considera normal o PSA total até 4 ng/ml e 20%, o nível de corte da relação livre/total.
     Neste estudo, o objetivo é comparar 2 níveis de corte da relação percentual do PSA livre/total em pacientes com diagnóstico prévio de câncer da próstata.

MATERIAL E MÉTODOS

     Retrospectivamente, entre janeiro de 1997 e março de 1999 foram revisados os prontuários de 131 pacientes com o diagnóstico anatomopatológico de câncer da próstata. Os casos selecionados para o estudo incluíram 75 pacientes que apresentavam câncer da próstata (pT1c), ou seja, toque retal normal e PSA total (PSAT) entre 4 e 10 ng/ml. Todos apresentavam PSA livre (PSAL) e a relação PSAL/PSAT. As idades dos pacientes variaram entre 50 e 75 anos, mediana 63 anos. Dentre eles, 47 foram submetidos à prostatectomia radical, 20 pacientes à radioterapia externa conformal e 8 foram tratados com bloqueio androgênico completo.
     A dosagem do PSA foi realizada pelo método Enzyme Immuno AssayÒ do Laboratório Abbott. Após a coleta do sangue, o plasma era mantido à temperatura de 20C a 80C, e processado dentro de 24 horas. O mesmo plasma sangüíneo era utilizado na determinação do PSAT e PSAL.
     Os resultados das dosagens foram estudadas em duas situações, de acordo com o nível de corte da relação livre-total do PSA. Na situação A, o nível de corte era de 20%; e na situação B, de 15%. Em cada uma das situações, os resultados foram divididos em 3 grupos. Grupo 1, quando a relação era menor ou igual a 10%; grupo 2, entre 11 e 20% e grupo 3, maior que 20%. Na situação B: grupo 1, relação menor ou igual a 10%; grupo 2, entre 11 e 15% e grupo 3, maior que 15%. Os valores obtidos nas duas situações foram comparados, utilizando-se o teste do X2 com 2 graus de liberdade, considerando-se significantes os valores de p < 0,05.

RESULTADOS

     Os mesmos 75 pacientes com toque retal normal e PSA entre 4 e 10 ng/ml foram analisados nas situações A e B.
     Na situação A (nível de corte de 20%) - grupo 1 (relação menor ou igual a 10%) era representado por 38 pacientes (50,67%), o grupo 2 (relação entre 11 e 20%), 29 pacientes (38,66%), e o grupo 3 (relação maior que 20%), 8 pacientes (10,67%) (Tabela-1).



     Situação B (nível de corte 15%) - grupo 1 (relação menor ou igual a 10%), os mesmos 38 pacientes (50,67%), grupo 2 (relação entre 11 e 15%), 13 pacientes (17,33%) e grupo 3 (relação maior que 15%), 24 pacientes (32%) (Tabela-2).



     A aplicação do teste do X2 mostrou diferença significante entre as duas situações (p < 0,01), ou seja, os pacientes com câncer da próstata, em sua maioria (89,3%), apresentam relação do PSA menor que 20%.

DISCUSSÃO

     O uso rotineiro do PSA sérico, sem dúvida, incrementou a detecção precoce do câncer da próstata. Entretanto, apesar da alta sensibilidade, a especificidade é relativamente baixa. A biopsia da próstata é recomendada para pacientes que apresentam a próstata alterada ao toque retal ou valores anormais do PSA, acima de 4 ng/ml, quer associada quer isoladamente (15% dos casos). Aqueles que têm toque normal e PSA entre 4 e 10 ng/ml, representam a área cinzenta do diagnóstico. A elevação do PSA total (PSAT) indica maior risco (25% comparado a 4% do risco na população com PSAT abaixo de 4 ng/ml), mas, neste caso, 75% das biópsias são negativas, portanto desnecessárias.
     O PSA existe sob várias formas no plasma sangüíneo; a maior fração está acoplada a inibidores de proteases, porém uma não está ligada a essas proteínas, o PSA livre. Embora atualmente não haja explicação, o PSA livre (PSAL) encontra-se reduzido nos pacientes com câncer da próstata, ao contrário do verificado nos portadores de hiperplasia benigna, que apresentam taxas mais elevadas. Diversos investigadores tentaram utilizar essas diferentes proporções para melhorar a especificidade do PSA nos pacientes com câncer.
     Um estudo realizado em 7 centros de referência americanos, envolvendo 773 pacientes, utilizou 2 níveis de corte, 22 e 25%. Dos 379 pacientes com câncer, 10 e 5%, respectivamente, ficaram acima dos níveis de corte, aumentando a especificidade do PSA para até 95% (1). Na Finlândia, outra série, envolvendo 333 pacientes, comparou a relação percentual do PSA em pacientes com hiperplasia benigna e câncer da próstata. Dentre os portadores de câncer, 10% apresentavam relação maior que 20%, enquanto 46% tinham relação menor que 10%. Quando o nível de corte foi 15%, observou-se que 23% dos casos de câncer ficaram acima desse limite, o que diminuiu a especificidade do PSA para 90%. Da mesma forma, outros estudos demonstraram resultados semelhantes com a aplicação da relação livre-total do PSA (9).
     O presente estudo demonstrou que, em nossos pacientes, em 50,67% das vezes, a relação do PSA esteve abaixo de 10%. Quando aplicado o nível de corte de 20%, observou-se que apenas 10% dos pacientes com câncer situavam-se acima desse nível, ao passo que, utilizando-se o nível de corte de 15%, mais de um terço dos pacientes apresentavam valor superior. Portanto ao se diminuir o nível de corte da relação livre/total do PSA para se indicar biopsia, deixaria de ser diagnosticado um contingente importante de casos com câncer.

CONCLUSÃO

     Os resultados encontrados vêm ao encontro dos dados da literatura, podendo-se concluir que a relação percentual do PSA, com utilização do nível de corte de 20%, pode-se diagnosticar mais 21,33% de casos de câncer, portanto de grande valia para o diagnóstico.

REFERÊNCIAS

  1. Catalona WJ, Partin AW, Slawin KM, Brawer MK, Flanigan RC, Patel A, Richie JP, de Kernion JB, Walsh PC, Scardino PT, Lange PH, Subon EN, Parson RE, Gasior GH, Loveland KG, Sowthwick PC. Use of the percentage of free PSA to enhance differentiation of prostate cancer from benign prostatic disease. JAMA, 279: 19, 1542-1547, 1998.
  2. Panneck J, Rittenhouse HG, Chan DW, Epstein JI, Walsh PC and Partin AW. The use of percent free PSA for staging of men with clinically localized prostate câncer. J Urol, 159: 1238-1242, 1998.
  3. Keetch DW, Catalona WJ, Smith DS. Serial prostatic biopsies in men with elelvated serum PSA values. J Urol 151: 1571-1574, 1994.
  4. Bangma CH, Rietbergen JBW, Schroeder FH. The free to total PSA ratio improves the specificity of PSA in screening for prostate cancer in general population. J Urol 157: 2191-2196, 1997.
  5. Bangma CH, Kranse R, Blijenberg BG and Schröder FH. The value of screening tests in the detection of prostate cancer. Part 1. Results of a retrospective evaluation of 1726 men. Urology, 46: 773-778, 1995.
  6. Chan DW, Sokoll LJ, Jones KA. Clinical evaluation of two free PSA assays in combination with different total PSA assays. J Urol 157: 112, 1997.
  7. Fortunato A, Dorizzi RM, Marchi G, Davini A, Cocco C. Fpsa/tPSA ratios obtained using nine commercial assays. Clin Chem 42: 268, 1996.
  8. Jung K, Stephan C, Lein M. Analytical performance and clinical validity of two free PSA assays compared. Clin Chem 42: 1026-1033, 1996.
  9. Recker F, Kwiatkwiski MK, Piironen T. Free to total PSA ratio improves the specificity for detecting prostate cancer in patients with prostatism and intermediate PSA levels. Br J Urol 81: 532-538, 1998.


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Received: January 10, 2000
Accepted after revisions: March 29, 2000


COMENTÁRIO EDITORIAL

     O autor apresenta um levantamento retrospectivo da relação livre/total do PSA em 75 pacientes do nosso meio, com diagnóstico prévio de câncer de próstata. Reproduz os resultados observados na literatura sobre a importância da relação, quando o PSA total se encontra entre 4 e 10 ng/ml. Apresenta de modo elegante as diferenças observadas na freqüência dos casos de câncer, quando utiliza nível de corte de 10, 15 e 20% na relação, os quais foram respectivamente 50, 68 e 90%.
     Seria muito interessante conhecer o total de indivíduos submetidos à biópsia. Assim poderíamos saber, embora válido apenas para a presente amostra, quais as diferentes taxas de detecção, especificidade e falsos negativos, observadas com as diferentes relações do PSA.

Homero Oliveira de Arruda
Disciplina de Urologia, UNIFESP

COMENTÁRIO EDITORIAL

     O presente estudo confirma que na população brasileira, impar pela sua miscigenação, a utilização da relação do PSA livre/total (L/T) pode ser importante para a indicação da biópsia prostática no paciente com PSA entre 4-10 ng/ml, evitando sua realização em pacientes com relação > 20%, nos quais o diagnóstico de HPB é maior de 75%.
     Tanto nos EUA, Europa, como no nosso país, cada vez mais se realiza o diagnóstico do câncer de próstata no estádio clínico T1c, ou seja ao redor de 108 células. Infelizmente apesar do diagnóstico ser considerado precoce não o é, pois um nódulo prostático com 1g ou 109 células já é palpável ao toque retal, e o paciente não sobrevive a 1 Kg de câncer ou seja 1012 células. Nos países do primeiro mundo se observa uma migração do diagnóstico do câncer de próstata (CaP) para o estádio clínico T1c, chegando a índices de 50% (SEER-ACS, 1998).
     A relação PSAL/T foi melhor do que o PSA da zona transicional, a densidade do PSA, a velocidade do PSA e o PSA total para o diagnóstico do CaP em pacientes com PSA entre 2,5 e 4 ng/ml (1).
     A probabilidade de CaP quando a relação PSAL/T estiver entre >15-20% é de 34% em média, e de 71%, quando a relação for menor que 9% (2).
     Outra importante contribuição que vem sendo fornecida pela relação PSAL/T é que alguns autores relataram que os pacientes com relação >15% tem 70% de prognóstico favorável quando avaliado o anatomopatológico após a prostatectomia radical, enquanto que aqueles com relação <15% tem apenas 35% de prognóstico favorável (p<0,001) (3).

Referências

  1. Djavan B, Remzi M, Seitz C, Marberger M, Zlotta A, Hammerer P: Serum-PSA, F/T PSA, PSAD, PSA-TZ and PSA velocity: Early detection of prostate cancer in men with serum PSA level of 2.5 to 4.0 ng/ml. J Urol, 161: Abst. 355, 1999.
  2. Chan DW, Sokoll LJ, Partin AW, Wong PY, Sasse E, Montie J, Wojno K, Crawford D, Moul JW, Lynch J, Marley G, Woolf P, Wright Jr G, Vessela R: The use of % free PSA (% f PSA) to predict prostate cancer probabilities: An eleven center prospective study using an automated immunoassay in a population with non-suspicius DRE. J Urol, 161: Abst., 353, 1999.
  3. Southwick PC, Catalona WJ, Partin AW, Slawin KM, Brawer MK, Flanigan RC, Patel A, Richie JP, Walsh PC, Scardino PT, Lange PH, Gasior GH, Parson RE, Loveland KG: Prediction of post-radical prostatectomy pathological outcome for stage T1c prostate cancer with percent free specific antigen: A prospective multicenter clinical trial. J Urol, 162: 1346-1351, 1999.

Francisco Paulo da Fonseca
Serviço de Urologia
Hospital do Câncer, São Paulo

RESUMO

RELAÇÃO PSA LIVRE/TOTAL NO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DA PRÓSTATA

     Objetivo: Verificar a variação na taxa de diagnóstico de câncer da próstata, em 2 níveis de corte, 15 e 20%, na relação livre/total do PSA.
     Material e Métodos: no período de janeiro de 1997 a março de 1999 foram estudados os protocolos de 131 pacientes com diagnóstico anatomopatológico de câncer da próstata. Destes, foram incluídos no estudo 75 pacientes com PSA entre 4 e 10 ng/ml, toque retal normal e média de idade de 63 anos.
     De acordo com o nível de corte da relação livre/total do PSA foram estabelecidas duas situações distintas A e B, com 3 grupos cada. Na situação A, cujo nível de corte era 20%, o grupo 1 apresentava relação menor ou igual a 10%; o grupo 2, entre 11 e 20% e o grupo 3, relação maior que 20%. Na situação B o nível de corte era 15%, e o grupo 1 apresentava relação menor ou igual a 10%; o grupo 2, entre 11 e 15% e o grupo 3, maior que 15%. Os dados foram tratados estatisticamente pelo teste do X2 com 2 graus de liberdade e considerados significantes os valores de p < 0,05.
     Resultado: Na situação A, 50,67% dos pacientes apresentavam relação menor ou igual a 10%, 38,66% apresentava relação entre 11 e 20% e em 10,67% a relação era maior que 20%. Na situação B, 50,67% apresentavam relação menor ou igual a 10%, 17,33% entre 11 e 15% e em 32% a relação era maior que 15% (p < 0,01).
     Conclusão: A relação livre-total do PSA, com nível de corte de 20%, é de grande valia para a detecção do câncer da próstata.

Unitermos: relação livre-total do PSA, câncer da próstata
Braz J Urol, 26: 171-175, 2000

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