LONG-TERM OUTCOME
OF PENILE FRACTURE TREATMENT
PAULO T.R. GIANINI,
AFFONSO C. PIOVESAN, JOSÉ L.B. MESQUITA,
RODRIGO L.P. ROMÃO, SAMI ARAP
Division
of Urology, School of Medicine, State University of São Paulo,
SP, Brazil
ABSTRACT
Objectives:
Penile fracture is a rare injury, usually resulting from direct trauma
to the erect penis during sexual intercourse. Our goal was to evaluate
the best diagnostic methods and the late complications following surgical
treatment of penile fracture.
Material and Methods: We studied retrospectively
11 patients with penile fracture in a period of 10 years (1985-1995).
Results: In 55% of the cases, the injury
occurred during sexual intercourse. All patients presented with a very
suggestive clinical picture (pain, detumescence and hematoma) and only
2 were submitted to further investigation (ultrasonography) to confirm
the diagnosis. Only one patient had urethral bleeding and therefore was
submitted to retrograde urethrogram, which confirmed urethral injury.
All patients were treated by immediate surgery, through a circular subcoronal
incision and degloving of the penis to allow a thorough exploration. All
patients had a tunica albuginea tear that was promptly repaired, and 2
patients (18%) had associated urethral injury (one had no symptoms) that
was also repaired. All patients did very well after surgery and only one
had a mild curvature, which did not hinder intercourse during follow-up
(18 months).
Conclusions: Penile fracture has very typical
clinical signs and, therefore, further investigation is usually unnecessary.
Early surgical treatment is associated with a low incidence of late complications.
Key words:
penis; trauma; corpus cavernosum; albuginea rupture; coitus
Braz J Urol, 27: 46-49, 2001
INTRODUÇÃO
A
fratura peniana é a ruptura da túnica albugínea do
pênis, tratando-se, portanto, de uma lesão do corpo cavernoso.
Trata-se de uma lesão rara, tanto no que diz respeito à
sua incidência real, como também pelo aspecto social da lesão,
que acaba levando o paciente a não procurar serviço médico
(1).
A fratura peniana está relacionada
à ereção em aproximadamente 100% dos casos, uma vez
que nesta situação a albugínea se adelgaça
e o pênis se torna menos móvel e, portanto mais susceptível
a lesões (2-4). O mecanismo de lesão na fratura do pênis
é o traumatismo fechado, quando em ereção, que geralmente
ocorre durante o coito (choque contra a sínfise púbica da
parceira), masturbação ou durante o sono (pênis em
ereção lesado pela movimentação do paciente).
Associada à fratura peniana pode existir lesão de uretra
(parcial ou total), sendo que sua incidência é bastante variável
na literatura (10-20%) (3,5).
O quadro clínico típico da
fratura de pênis é dor, detumescência peniana, edema,
hematoma e desvio ou curvatura do pênis (2,5,6). Muitos pacientes
referem um estalido característico quando a lesão ocorre.
Achados como uretrorragia, dor e/ou dificuldade à micção,
sangue no meato uretral e hematúria chamam a atenção
para possível lesão de uretra (2,7,8). A lesão da
albugínea é palpável em alguns casos (5).
O principal diagnóstico diferencial
da fratura peniana é a lesão da veia dorsal profunda do
pênis, que provoca um quadro clínico bastante semelhante
ao da fratura (hematoma restrito à fáscia de Buck) (2,9).
Neste artigo, são apresentados 11
casos de fratura peniana estudados retrospectivamente, com o objetivo
de se avaliar as melhores condutas diagnósticas para esse tipo
de trauma e as complicações tardias após o tratamento
cirúrgico para essa condição.
MATERIAL E MÉTODOS
No
período de novembro de 1985 a novembro de 1995, 11 casos de fratura
peniana foram atendidos em nosso serviço. A idade média
dos pacientes era de 35 anos. A etiologia mais comum foi relação
sexual (55% - 6 casos) seguida de lesão durante o sono com o pênis
em ereção (27% - 3 casos) e masturbação (18%
- 2 casos).
Clinicamente, todos os pacientes perceberam
um estalido seguido de dor e detumescência peniana; em todos, se
observaram hematoma peniano e encurvamento pelo hematoma. Em 5 pacientes
(45%) um defeito na albugínea era palpável ao exame físico.
Em apenas 1 paciente se observou uretrorragia à admissão.
Todos os pacientes avaliados procuraram o serviço de pronto-socorro
com menos de 24 horas de história.
A investigação através
de exames de imagem foi realizada em apenas 3 pacientes, sendo 2 ultra-sonografias
e 1 uretrografia retrógrada (no paciente com uretrorragia).
Todos os pacientes foram submetidos à
cirurgia, que consistiu em incisão subcoronal circunferencial,
desenluvamento do pênis com exposição e exploração
de ambos os corpos cavernosos e da uretra peniana em toda sua extensão.
Em todos os pacientes havia lesão de albugínea, que foi
prontamente suturada, através de sutura contínua com fio
absorvível de longa duração em 9 casos. Em 2 pacientes
constatou-se lesão parcial de uretra (1 deles sem uretrorragia),
tendo sido realizada sutura término-terminal em ambos; nesses casos,
tanto a lesão uretral como a lesão na albugínea foram
suturadas com fio inabsorvível. Em nossa casuística não
houve, em nenhum caso, lesão da veia dorsal profunda do pênis.
A sonda vesical foi mantida por 24 horas
nos pacientes sem lesão de uretra e por 7 dias nos pacientes que
apresentavam esse tipo de lesão. Todos os pacientes receberam antibioticoterapia
por 7 dias, com cefalosporina de primeira geração. Não
foram utilizados drenos em nenhum caso.
Os pacientes receberam alta em média
após 2.9 dias da cirurgia e foram seguidos por 18 meses.
RESULTADOS
Na
casuística apresentada, o diagnóstico da fratura peniana
foi fechado clinicamente, sem necessidade de exames complementares, em
9 casos (81%). Em 2 casos, foi realizada ultra-sonografia, que confirmou
o defeito na albugínea. Apenas 1 paciente apresentava clínica
de lesão de uretra (uretrorragia) e por isso foi submetido à
uretrografia retrógrada, com diagnóstico de lesão
parcial. Em 1 paciente totalmente assintomático, a lesão
de uretra foi observada somente no intra-operatório. Nesta casuística,
2 pacientes (18%) apresentaram lesão de uretra, ambas parciais.
Todos os pacientes foram operados através
de incisão subcoronal circunferencial seguida de desenluvamento
peniano e em 100% dos pacientes encontrou-se lesão no corpo cavernoso
(albugínea), que foi imediatamente suturada. Em todos os casos,
essa lesão era unilateral, localizada na face ventral do corpo
cavernoso e transversa. O tamanho da lesão variou de 0.5 a 3.5
cm.
Em termos de complicações,
após 18 meses de seguimento, apenas 1 paciente apresentou encurvamento
leve do pênis, que não impedia a penetração,
estando os outros pacientes completamente assintomáticos.
DISCUSSÃO
A
fratura peniana é uma lesão bastante rara, com poucos serviços
com grande experiência em seu tratamento e poucas referências
em literatura. As poucas publicações existentes raramente
apresentam grandes séries de pacientes e por isso torna-se difícil
a padronização de condutas diagnósticas ou terapêuticas
para esse tipo de lesão.
A relação sexual é
a situação mais comumente relacionada à fratura peniana,
seguida da manipulação (masturbação) e acidentes
noturnos (2,5,7). A terapia de injeção intracavernosa para
impotência não parece guardar relação com esta
lesão, apesar da fibrose por ela provocada (10).
O quadro clínico da fratura de pênis
é muito típico na grande maioria das vezes, com o defeito
da albugínea sendo palpável em alguns pacientes (5) conforme
aconteceu em 45 % dos pacientes em nossa casuística.
A maioria dos autores concorda que o diagnóstico
da fratura peniana é clínico. Apesar disso, em alguns serviços
se utiliza a investigação complementar de rotina. Os exames
complementares para essa investigação consistem na ultra-sonografia,
cavernosografia e ressonância magnética.
A ultra-sonografia pode ser útil
para visibilizar o defeito na albugínea (11,12). Em nosso serviço,
esse exame não é realizado de rotina para investigação
desses pacientes. Este exame é reservado para casos onde a história
não é típica e o hematoma discreto, com o objetivo
de confirmar o diagnóstico. Esse tipo de apresentação
foi a menos freqüente e o exame foi indicado em apenas 2 casos.
Alguns poucos autores defendem a realização
da cavernosografia em todos os casos (2), enquanto outros não o
realizam argumentando que a injeção de contraste sobre um
pênis já edemaciado e doloroso é muito desconfortável
e pode não acrescentar muito ao que já foi concluído
no exame clínico (13). A maioria dos autores utiliza raramente
este exame, deixando-o reservado para os casos mais complexos (5,7). Nossa
opinião é que o exame é demasiadamente invasivo e
acrescenta pouco aos dados obtidos pela anamnese, exame físico
e, eventualmente, ultra-sonografia.
Recentemente, alguns estudos têm demonstrado
a alta precisão da ressonância nuclear magnética no
diagnóstico da fratura peniana (13,14). Entretanto, trata-se de
um exame de alto custo e nem sempre disponível em nosso meio, ainda
mais em se tratando de serviço de urgência. Reserva-se sua
utilização também para os casos menos claros.
Em relação ao trauma de uretra
associado, trata-se de lesão ainda mais rara, com incidência
variando de 10 a 20% na literatura (3,5). Existe praticamente um consenso
de que esse tipo de lesão só deve ser investigado na vigência
de sintomas (uretrorragia, dor à micção, hematúria,
sangue no meato) através da uretrografia retrógrada (2,8,13).
Entretanto, em uma casuística de 7 casos de fratura peniana publicada
por Mydlo et al. (5) em que houve 3 pacientes com lesões de uretra,
2 eram assintomáticos. Além disso, 2 pacientes com uretrorragia
não apresentavam lesão e 1 uretrografia mostrou resultado
falso-negativo. Em nossa casuística, 2 pacientes (18%), apresentavam
lesão de uretra mas só um deles era sintomático e
foi submetido à uretrografia enquanto que no outro paciente o diagnóstico
foi feito no intra-operatório. A investigação da
lesão de uretra, portanto, também está sujeita à
críticas. A abordagem cirúrgica por meio do desenluvamento
peniano após incisão subcoronal circunferencial permite
o estudo da uretra em toda a sua extensão, tornando a uretrografia
desnecessária.
Em estudo recente, Fergany et al. (15) chamam
a atenção para o aumento da incidência de lesão
bilateral dos corpos cavernosos quando há lesão de uretra
associada, o que não foi observado em nossos pacientes (lesões
sempre unilaterais em nossa casuística). A técnica cirúrgica
utilizada permite também exploração completa dos
corpos cavernosos.
Quanto ao tratamento da fratura peniana
com ou sem lesão de uretra associada, existe um consenso de que
este deve ser cirúrgico e imediato. Quanto mais precoce for o tratamento
cirúrgico, menor é a chance do paciente apresentar complicações
tardias como encurvamento peniano e dificuldade de penetração
(1,2,5,7,8,16,17). No passado, o tratamento conservador era realizado
com resultados piores (53% de complicações) (1,18). Alguns
autores sugerem que a abordagem cirúrgica nas primeiras 48 horas
pós-fratura é fundamental para que o paciente não
apresente complicações (1,16). Em nossa casuística,
o tratamento cirúrgico imediato (todos abaixo de 24 horas pós-trauma)
teve excelentes resultados, já que apenas um paciente apresentou
encurvamento peniano leve, que não impedia o coito, no seguimento
tardio.
Seftel et al. (19) sugerem uma incisão
inguino-escrotal para abordagem desse tipo de lesão, com a vantagem
de não se incisar pele edemaciada, entretanto, esta incisão
não oferece as mesmas condições de se avaliar todo
o pênis como se faz com a incisão circunferencial. O tratamento
da lesão da veia dorsal profunda do pênis também é
obrigatoriamente cirúrgico (2,9).
CONCLUSÃO
A
fratura peniana apresenta sinais clínicos bastante típicos
e sugestivos. Em virtude disso, consideramos a investigação
com exames complementares dispensável na grande maioria dos casos.
Em casos cuja clínica é pouco exuberante, a realização
de exames complementares, como a ultra-sonografia (a nosso ver o mais
executável e viável), cavernosografia ou ressonância
magnética podem ser consideradas. A exploração completa
da uretra peniana durante o ato cirúrgico torna a investigação
pré-operatória da lesão de uretra dispensável.
A abordagem cirúrgica precoce nos
parece muito importante para diminuir a taxa de complicações
e deve ser realizada por uma incisão subcoronal circunferencial
seguida de desenluvamento do pênis.
Quando o tratamento cirúrgico é
realizado precocemente com correção adequada das lesões,
a fratura peniana se acompanha de baixa morbidade.
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_________________________
Received: December 22, 1999
Accepted after revision: January 11, 2001
_______________________
Correspondence address:
Dr. Affonso Celso Piovesan
Divisão de Clínica Urológica, HC - USP
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