DOUBLE INFERIOR
VENA CAVA ASSOCIATED WITH RENAL
CELL CARCINOMA
FELIPE P. F. DE
MELO, HÉLIO A. GOUVEIA, ROBERTO R. MAROCLO
Division
of Urology, Ipanema General Hospital, Rio de Janeiro, RJ, Brazil
ABSTRACT
Introduction:
Anomalies of the inferior vena cava (IVC) occur infrequently and if unidentified
can lead to life-threatening situations with significant morbidity during
surgical exploration in the retroperitoneum. Most anomalies remain asymptomatic
until recognized in surgery. Double inferior vena cava has been associated
with horseshoe kidneys, cloacal exstrophy and renal neoplasms. The authors
describe a case of double IVC confirmed during surgical treatment for
renal cell carcinoma of the right kidney.
Case Report: A 71 year-old man, admitted
with a palpable mass in the right upper quadrant and hematuria. There
was no weight loss or intestinal disturbance. Ultrasound showed a heterogeneous
mass on the upper pole of the right kidney. The computed tomography (CT)
scan confirmed a solid lesion, suggesting a renal neoplasm and an image
of double IVC. The magnetic resonance imaging did not demonstrate tumor
thrombus into the right inferior vena cava. The patient underwent a right
radical nephrectomy, by a thoracoabdominal approach and was discharged
from the hospital on postoperative day 6 with none intra or postoperative
complication. The patient is on ambulatory follow-up with no signs of
local or distant recurrence.
Discussion: Formation of inferior vena cava
is a complex process that involves multiple steps. Caval development begins
in the sixth week and progresses rapidly, with formation of all three
precursor venous systems by the eighth week of fetal life. Double inferior
vena cava is caused by persistence of all or parts of both subcardinal
vessels. Anomalous venous tend to be dilated and tortuous, making injury
more likely. Intraoperative trauma may cause life-threatening hemorrhage.
Although duplication of the IVC are not common and have no clinical significance,
its recognition are important when surgical procedures involve structures
of the retroperitoneum.
Key words:
vena cava; anomalies; double inferior vena cava; renal cell, carcinoma
Braz J Urol, 27: 367-369, 2001
INTRODUÇÃO
Anomalias
da veia cava são patologias raras, com incidência entre 0.5%
e 3%. Duplicação da veia cava inferior é pouco comum,
tendo incidência de 1.5 a 3% em relatos de autópsias (2,3).
Esta entidade tem sido evidenciada em associação com rins
em ferradura (1), extrofia de cloaca (1) e durante explorações
cirúrgicas para tratamento de neoplasias renais (2,3).
Os autores apresentam um caso de duplicação
de veia cava inferior, confirmado durante tratamento cirúrgico
de carcinoma de células renais do rim direito.
RELATO DO CASO
Paciente
do sexo masculino, de 71 anos, apresentando sensação de
incômodo na região lombar direita e hematúria macroscópica
há 6 meses. Ao exame físico bom estado geral, apresentando
massa palpável em hipocôndrio direito. Negava perda de peso
ou alteração do ritmo intestinal.
Realizado ultra-som abdominal e urinálise
que evidenciaram massa heterogênea, de 13 x 15 cm, em pólo
superior do rim direito e hematúria. Radiografia do tórax
apresentava-se normal, sem evidência de metástases. A tomografia
computadorizada revelou lesão expansiva sólida em pólo
superior do rim direito, sugestiva de neoplasia renal com ausência
de linfonodos regionais aumentados ou metástases, porém
a veia cava apresentava-se deslocada pelo tumor com imagem de duplicação
ao nível de L3-L4 (Figure-1). Foi realizada ressonância nuclear
magnética que confirmou duplicação da veia cava inferior
bem como excluiu a presença de trombos tumorais no seu interior.
O paciente foi submetido à nefrectomia
radical e linfadenectomia regional à direita através de
toracofrenolaparotomia. A dissecção do retroperitônio
e dos grandes vasos confirmou a anomalia de duplicação da
veia cava inferior (Figure-2). O laudo histopatológico confirmou
carcinoma de células renais de pólo superior do rim direito,
com invasão da gordura peri-renal e sem linfonodos acometidos.
Não ocorreu nenhuma complicação intra ou pós-operatória,
e o paciente encontra-se em acompanhamento ambulatorial, sem evidência
de recorrência local ou à distância no seguimento de
6 meses após a cirurgia.
DISCUSSÃO
A
formação da veia cava inferior é um processo complexo
que envolve várias etapas. Três sistemas venosos completos
se desenvolvem (veias cardinais anteriores e posteriores, veias subcardinais
e veias supracardinais) e seletivamente regridem para a formação
da veia cava inferior e suas tributárias. Este desenvolvimento
se inicia na 6a. semana de vida fetal e progride rapidamente, com formação
dos 3 sistemas precursores em torno da 8a. semana (1,3).
Existem 4 grandes malformações
da veia cava inferior: transposição da veia cava inferior,
duplicação da veia cava inferior, colar renal circum-aórtico
e veias renais retro-aórticas (3).
A duplicação da veia cava
inferior é originada da persistência de ambas ou parte das
duas veias subcardinais. Uma dupla veia cava direita é formada
devido à persistência de ambas as veias subcardinais: dorsal
e ventral. A duplicação geralmente é abaixo das veias
renais, porém variações são comuns. Usualmente
a veia cava direita é dominante, e a veia cava esquerda se anastomosa
a esta pela frente ou por detrás da aorta, e podem estar presentes
anomalias concomitantes das veias renais. Anomalias venosas tendem a se
dilatar e se tornarem tortuosas, o que as torna extremamente fáceis
de serem lesadas, transformando assim, o traumatismo intraoperatório
uma condição de risco de vida (1).
Em exames de tomografia computadorizada
a duplicação da veia cava inferior pode ser erroneamente
interpretada como adenopatia retroperitoneal, sendo a incidência
em exames relatada em torno de 0.3 a 1% (2,3). A continuidade de duas
estruturas redondas de cada lado da aorta (double cava sign),
deve ser confirmada em cortes consecutivos da veia renal esquerda até
a 4a. vértebra lombar (2).
Embora a duplicação da veia
cava inferior seja incomum e não apresente significado clínico,
seu reconhecimento é importante quando procedimentos radiológicos
ou cirúrgicos envolverem estruturas do retroperitônio. Os
cirurgiões devem ter em mente a possibilidade de anomalias da veia
cava inferior, em especial a duplicação, quando realizarem
cirurgias retroperitoneais.
REFERÊNCIAS
- Mathews
R, Smith PA, Fishman EK, Marshall FF: Anomalies of the inferior vena
cava and renal veins: embryologic and surgical considerations. Urology,
53: 873-880, 1999.
- Habuchi
T, Okagaki T, Arai K, Miyakawa M: Renal cell carcinoma extending into
left side of double inferior vena cava. Urology, 41: 181-184, 1993.
- Shingleton
WB, Hutton M, Resnick MI: Duplication of inferior vena cava: its importance
in retroperitoneal surgery. Urology, 43: 113-115, 1994.
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Received: May 3, 2001
Accepted after revision: July 25, 2001
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