CONSERVATIVE SURGERY
FOR SMALL RENAL TUMORS
CHRISTIANO MACHADO,
PIERRE D. GONÇALVES, MIGUEL SROUGI
Division
of Urology, Paulista School of Medicine, Federal University of São Paulo,
São Paulo, SP, Brazil
ABSTRACT
Purpose:
The conservative renal surgery has been used in patients with solid renal
lesions to preserve the renal function and because some of these lesions
are benign and do not demand a complete excision of the kidney. The authors
describe their experience with conservative surgery for renal tumors and
discuss its efficiency.
Material and Methods: We studied 24 patients
with renal tumors that underwent partial nephrectomy (5 lesions) or enucleation
(22 lesions). Seven patients had bilateral tumors and in 17 the contralateral
kidney was normal. Out of the 27 lesions treated, four (14.8%) were benign.
Results: Temporary urinary fistula (one
case) and renal failure (one case) were the only complications observed.
Out of the 20 patients with renal adenocarcinoma, one died due to metastatic
disease and another remained alive despite a systemic disease. Furthermore,
one patient had tumor recurrence on the kidney, which was successfully
treated through local re-intervention. After a mean follow-up of 38 months,
eighteen of 20 patients (90%) were alive and disease-free.
Conclusion: Conservative renal surgery has
a low incidence of local recurrence and a good disease free survival rate.
Key words:
kidney neoplasms; carcinoma; surgery; nephron-sparing
Braz J Urol, 27: 244-249, 2001
INTRODUÇÃO
Com
a maior utilização de estudos de imagem, principalmente
a ultra-sonografia e a tomografia computadorizada, a detecção
de pequenas massas renais tem aumentado substancialmente. Tumores de rim
com menos de 3 cm de diâmetro eram classificados como adenomas até
há pouco (1). Porém, Wunderlich et al. (1) evidenciaram
em autópsia que 47% e 93% dos tumores renais com menos de 2 cm
e entre 2.1 e 3 cm, respectivamente, eram carcinoma de células
renais. Além disso, cerca de 7% dos tumores com menos de 3 cm podem
apresentar metástases viscerais ou para linfonodos, demonstrando
assim o seu potencial de malignidade (2).
A excisão cirúrgica é
o método mais eficaz para se tratar carcinoma de células
renais e a nefrectomia radical constitui o tratamento de escolha nestes
casos. Entretanto, a cirurgia de preservação de parênquima
renal, tanto a nefrectomia parcial como a enucleação do
tumor, inicialmente utilizada em casos de rins solitários, tumores
bilaterais, doença de Von Hippel-Lindau ou na presença de
outra patologia benigna no rim contralateral, tornou-se um opção
atrativa também em pacientes com câncer renal localizado
e rim contralateral normal. Esta concepção resultou do fato
de algumas vezes haver incerteza com relação ao diagnóstico
etiológico, pela possibilidade de tumor renal benigno, angiomiolipoma
ou cisto renal complexo. Ademais, a sobrevida de pacientes com carcinoma
de células renais de pequenas dimensões tratados com cirurgia
conservadora parece ser similar à nefrectomia radical, tornando
o método confiável em clínica (3,4).
Neste estudo apresentamos a experiência
com a cirurgia de preservação do parênquima renal
e discutimos a eficácia deste método no tratamento de pacientes
com adenocarcinoma renal de pequenas dimensões.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram
avaliados 24 pacientes com idade entre 39 e 76 anos (mediana de 60 anos),
submetidos a 27 cirurgias de preservação de parênquima
renal em 25 unidades renais durante o período de setembro de 1993
a julho de 1999.
Quatro pacientes apresentavam rim único
no momento do diagnóstico. Dois pacientes haviam sido submetidos
a nefrectomia do rim oposto por neoplasia e outros dois devido a doença
benigna. O rim contralateral era normal em 12 pacientes e apresentava
patologia benigna em outros 5 indivíduos.
As técnicas de preservação
do parênquima renal utilizadas foram a nefrectomia parcial e a enucleação
do tumor renal. A nefrectomia parcial consiste da amputação
de um dos pólos do rim em tumores periféricos ou ressecção
em cunha em tumores centrais, com remoção de ao menos 0.5
cm de tecido renal normal de segurança e com controle prévio
do pedículo renal. Não houve necessidade de clampeamento
da artéria renal ou hipotermia do rim. Após a ressecção
da lesão é realizada a reconstrução e fechamento
do sistema coletor, se necessário, e hemostasia da superfície
de corte com pontos em U que atravessam o parênquima
(Figure-1).
A enucleação é feita
através de uma incisão circunferencial em torno da pseudo-cápsula
de tecido renal comprimida pelo tumor, tomando-se o cuidado de preservar
a gordura que recobre a lesão. Procede-se, então, a uma
dissecção romba com o cabo do bisturi, para remoção
do tumor. A hemostasia é obtida através da passagem de pontos
hemostáticos em U na margem do parênquima, formando
uma coroa de pontos em torno do leito tumoral (Figure-2).
A enucleação do tumor renal
foi o método preferencial utilizado em 22 lesões e a nefrectomia
parcial foi realizada em 5 lesões, das quais um caso de tumor meso-renal
foi submetido à ressecção em cunha. O tamanho das
lesões variou entre 1.3 e 8 cm (mediana de 2.6 cm). Um total de
7 pacientes apresentavam neoplasia renal contralateral, dos quais 5 eram
sincrônicos e 2 metacrônicos. Quatro pacientes com tumor sincrônico
foram submetidos a nefrectomia radical contralateral devido ao estágio
avançado tumoral. Em um paciente que apresentava carcinoma de célula
renal bilateral foi possível realizar nefrectomia parcial em uma
unidade renal e enucleação do tumor renal contralateral.
Nestes casos as cirurgias foram realizadas em 2 tempos distintos para
se evitar insuficiência renal.
O seguimento pós-operatório
variou de 1 a 79 meses (média = 32 meses), sendo que os pacientes
com adenocarcinoma renal apresentaram seguimento médio de 38 meses.
A maioria dos pacientes foram avaliados a intervalos de 6 meses, com estudos
de imagem, ultra-sonografia ou tomografia computadorizada de abdome, radiografia
de tórax e exames hematológicos.
RESULTADOS
A
análise histopatológica dos 27 tumores submetidos a cirurgia
de preservação do parênquima revelou a presença
de carcinoma de células renais em 23 casos, subtipo células
claras em 17 e papilífero em 6 tumores. Dois pacientes apresentavam
angiomiolipoma e 2 pacientes eram portadores de oncocitoma, um dos quais
evidenciava carcinoma de células cromófobas no rim oposto,
tratado com nefrectomia radical.
Os tumores foram estagiados de acordo com
a classificação TNM da UICC modificada em 1997 (5), sendo
observado que 26 tumores encontravam-se em estágio T1 e T2 e apenas
um paciente apresentava estágio T3a, com invasão da gordura
peri-renal.
Um paciente apresentou drenagem elevada
de urina pela ferida operatória com resolução espontânea.
O mesmo paciente apresentava rim único com tumor de 8 cm, evoluindo
com insuficiência renal após a ressecção da
lesão e necessitando de diálise crônica.
Após 43 meses de seguimento um paciente
(5%) que apresentava lesão de 2.5 cm apresentou um novo tumor,
sendo manejado com cirurgia de enucleação, pois se tratava
de rim solitário.
Dos 20 pacientes com adenocarcinoma renal,
18 (90%) encontram-se vivos e sem evidência de doença após
um seguimento médio de 38 meses com uma sobrevida atuarial de 70%
em 5 anos (Figure-3). Apenas 2 pacientes (10%) evoluíram com metástases
hepáticas, dos quais um paciente, que apresentava doença
de Von Hippel-Lindau e tumor bilateral sincrônico com linfonodos
comprometidos, morreu aos 60 meses. O outro paciente com metástases,
encontrava-se vivo com 74 meses de seguimento, este paciente apresentava
duas neoplasias renais que foram ressecadas e um tumor metacrônico
manejado com cirurgia radical.
DISCUSSÃO
A
remoção de tumores com preservação do rim
foi inicialmente empregada como alternativa à cirurgia radical
em situações nas quais era necessária a preservação
da função renal, como nos casos de tumores bilaterais e
de rim único anatômico ou funcional. Mais recentemente, a
indicação de se realizar cirurgias conservadoras ampliou-se
aos casos de tumores pequenos com o rim contralateral normal, em virtude
da observação de que a sobrevida destes pacientes era igual
à observada com a nefrectomia radical (4).
Quatro dos nossos pacientes apresentavam
neoplasias benignas, incluindo 2 casos de angiomiolipoma e 2 casos de
oncocitoma, um destes últimos associado a carcinoma de células
cromófobas no rim contralateral. A natureza de lesões tumorais
de pequenas dimensões nem sempre é determinada com segurança
pelos estudos radiológicos pré-operatórios, o que
pode levar a nefrectomias desnecessárias se a remoção
total do rim for realizada indiscriminadamente em todos os casos.
Angiomiolipomas são hamartomas que
exigem cirurgia apenas quando sintomáticos ou quando apresentam
tamanho superior a 4 cm, já que nestes casos o risco de ruptura
e hemorragia é substancial (6). Nos 2 casos que tratamos optou-se
por cirurgia conservadora porque existiam dúvidas pré-operatórias
com relação à natureza da lesão tumoral.
Os oncocitomas são tumores benignos,
mas que em cerca de 10% estão associado a carcinoma renal contralateral
(7). Cirurgia conservadora é ideal nestas circunstâncias,
a fim de reduzir os riscos de insuficiência renal crônica.
Vermooten (8) descreveu pela primeira vez,
em 1950, a técnica de enucleação para câncer
renal, que oferece algumas vantagens em relação à
nefrectomia parcial, já que permite a remoção da
neoplasia em qualquer parte do rim, exige mínima mobilização
do pedículo renal e menor sacrifício de tecido renal normal,
além da simplicidade e rapidez da técnica. Entretanto, a
conservação do rim cria riscos de recidiva da doença
localmente, que é observada em 3 a 20 % dos pacientes operados
(9).
Em nosso estudo, observamos recidiva local
em um caso (5%), 43 meses após a enucleação da lesão.
Neste caso não foi demonstrado contigüidade entre o tumor
recidivado e o antigo leito tumoral, sugerindo tratar-se de um tumor de
novo ou do crescimento de um tumor satélite não detectado
na ocasião. Miyake et al. (10) observaram semelhança nos
padrões de perda de heterozigosidade entre tumores satélites
e a lesão principal, indicando que a presença de multifocalidade
pode ser na verdade o resultado de metástases intra-renais da lesão
principal. Multifocalidade é observada em 7 a 15.6% dos tumores
renais (11,12), apesar disso, constitui a causa da recorrência em
apenas 5 a 10 % das neoplasias, possivelmente pela baixa atividade biológica
de alguns destes tumores (13). Mesmo nos casos de recidiva local, o paciente
pode ser submetido a um novo procedimento de enucleação
com segurança, sem que o fenômeno implique necessariamente
em ônus à sua sobrevida.
Os 2 pacientes que apresentavam metástases
tinham tumor renal contralateral em estágio avançado, um
deles apresentava multicentricidade com duas neoplasias no mesmo rim e
o outro apresentava síndrome de Von Hippel-Lindau, uma doença
que notoriamente predispõe ao aparecimento de tumores renais, em
sua maioria multicêntricos, justificando esta evolução
desfavorável destes pacientes. A cirurgia renal conservadora em
pacientes com doença de Von Hippel-Lindau deve ser sempre tentada,
para reduzir a morbidade da doença, em pacientes cuja qualidade
de vida já está comprometida por outros problemas, como,
por exemplo, distúrbios neurológicos (14).
Vários autores demonstraram índices
de sobrevida bastante elevados quando se utiliza a cirurgia conservadora
em pacientes que apresentam o rim contralateral normal. Indudhara et al.
(15) analisando pacientes submetidos à nefrectomia radical e cirurgia
com preservação de parênquima não encontraram
diferença entre os 2 grupos, com sobrevida global de, respectivamente,
94% e 91%. Licht et al. (16) observaram em tumores estágio I ausência
de recidivas tumorais, com uma taxa de sobrevida câncer específica
de 100%. De forma semelhante, em nosso estudo todos os pacientes com adenocarcinoma
renal submetidos a cirurgia com preservação do parênquima
renal e que apresentavam o rim contralateral normal encontram-se sem evidência
de doença e após 38 meses de seguimento médio, 90%
dos pacientes encontravam-se vivos e sem recorrência.
A freqüência de complicações
relacionadas diretamente à cirurgia foi baixa, apenas um paciente
apresentou drenagem excessiva de urina pela ferida operatória,
tratada de forma conservadora e sem a necessidade de se realizar qualquer
procedimento adicional. Este paciente evoluiu com insuficiência
renal crônica, entretanto era portador de rim solitário e
apresentava lesão volumosa (8 cm), que impediu a preservação
de parênquima suficiente para manter a função renal.
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Received: January 30, 2000
Accepted after revision: April 26, 2001
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Correspondence address:
Dr. Christiano Machado
Rua Cândido de Abreu 660 / 1102
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