ENDOUROLOGY
AND LAPAROSCOPY
Laparoscopic
live donor nephrectomy: the recipient
Ratner LE, Montgomery RA, Maley WR, Cohen C, Burdick J, Chavin KD, Kittur
DS, Colombani P,
Klein A, Kraus ES, Kavoussi LR
Transplantation, 69: 2319-2323, 2000
Nefrectomia
laparoscópica de doador vivo: o receptor
- Objetivos:
A nefrectomia laparoscópica de doador vivo oferece vantagens
ao doador em termos de redução da dor e recuperação
mais breve. Até agora, não foi realizada nenhuma análise
detalhada do receptor, de rim removido por laparoscopia. O propósito
deste estudo foi determinar se a nefrectomia laparoscópica do
doador tem algum efeito deletério no receptor.
- Métodos:
Fez-se uma análise retrospectiva de todos os transplantes
renais realizados com doadores vivos entre janeiro de 1995 e abril de
1998. O grupo controle recebeu rins retirados por meio de incisão
lombar clássica (aberta). A rejeição foi caracterizada
histologicamente. O clearance de creatinina foi calculado por meio da
fórmula de Cockroft-Gault.
- Resultados:
110 receptores receberam rins retirados por laparoscopia (Lap) e 48
por cirurgia aberta (Aber). As taxas de sobrevida de 1 ano do receptor
(100% vs. 97%) e do enxerto (93.5% vs. 91.1%) foram semelhantes para
os grupos Aber e Lap, respectivamente. Incidências similares de
trombose vascular (3.4% vs. 2.1%, P = NS) e de complicações
ureterais (9.1% vs. 6.3%, P = NS) foram observadas nos grupos Lap e
Aber, respectivamente. A incidência de rejeição
aguda no primeiro mês foi de 30.1% no grupo Lap e de 31.9% no
grupo Aber (P = NS). O declínio do nível da creatinina
sérica no período pós-operatório imediato
foi mais rápido no grupo Aber, mas no 4o. PO nenhuma diferença
significativa pôde ser observada. Nenhuma diferença de
função do enxerto foi observada a longo prazo. O período
de internação foi de 7 dias (mediana) para ambos os grupos.
- Conclusões:
A nefrectomia laparoscópica não afeta negativamente a
recuperação do receptor. Os benefícios, já
demonstrados, da cirurgia laparoscópica para o doador, o aumento
da disposição dos indivíduos de doar seus rins
por laparoscopia e os resultados aceitáveis obtidos nos receptores
justificam a adoção e o aperfeiçoamento desta técnica
operatória.
- Comentário
Editorial
Introduzida em 1995, a técnica da nefrectomia laparoscópica
para transplante renal vem ganhando popularidade em alguns centros nos
Estados Unidos e no Oriente, principalmente. Os motivos alegados pelos
pioneiros são três: 1)- a cirurgia reduz a morbidade para
o doador, causando menores seqüelas e recuperação
muito mais rápida do que as proporcionadas pela cirurgia aberta;
2)- não há aumento da morbidade para o receptor, vencida
a curva de aprendizado, estimada em 30 cirurgias pelo grupo da Universidade
de Maryland; 3)- pode haver um aumento significativo de doadores, atraídos
pela menor morbidade da cirurgia laparoscópica, como ocorreu,
de fato, em algumas regiões dos Estados Unidos, mas não
foi ainda observada em outros lugares. Em nossa opinião, como
participantes do primeiro programa brasileiro de nefrectomia laparoscópica
para transplante renal, em andamento no Hospital das Clínicas
da FMUSP, ainda é cedo para se tirar qualquer conclusão
definitiva. Estudos adicionais sobre custos comparativos, e resultados
a longo prazo obtidos com a nefrectomia laparoscópica do rim
direito, poderão fortalecer ou não as conclusões
preliminares dos trabalhos até agora publicados.
Dr. Lísias Nogueira Castilho
Laparoscopic
live donor nephrectomy: the University of Maryland 3-year experience
Jacobs SC, Cho E, Dunkin BJ, Flowers JL, Schweitzer E, Cangro C, Fink
J,Farney A,
Philosophe B, Jarrell B, Bartlett ST
J Urol, 164: 1494-1499, 2000
Nefrectomia
laparoscópica do doador vivo: experiência de 3 anos da Universidade
de Maryland
- Objetivo:
Determinar se a nefrectomia laparoscópica do doador vivo diminui
a morbidade para o doador renal, ao mesmo tempo em que fornece o rim
com qualidade comparável à nefrectomia aberta.
- Material
e Métodos:
Em um período de 3 anos, a nefrectomia laparoscópica do
doador vivo foi realizada por via transperitoneal. Os dados médicos
do doador e receptor foram avaliados quanto às características
pré-operatórias, parâmetros intraoperatórios
e intercorrências, bem como recuperação e complicações
no pós-operatório.
- Resultados:
Das 320 nefrectomias laparoscópicas do doador vivo realizadas,
o rim esquerdo foi removido em 97.5%. As complicações
intraoperatórias ocorreram em 10.4% dos casos, e foram mais freqüentes
no início da experiência, determinando a conversão
para nefrectomia aberta em 5 casos.
O tempo médio operatório foi de 3 horas e meia e o tempo
médio de isquemia quente de 2 minutos e meio. Retenção
urinária, íleo paralítico, hiperestesias e hérnia
incisional foram as complicações pós-operatórias
mais comuns. A necessidade de analgésicos no pós-operatório
foi baixa e a hospitalização média foi de 66 horas.
- Conclusões:
A nefrectomia laparoscópica do doador vivo parece ser segura
e reduz a morbidade nos doadores vivos. A função do aloenxerto
é comparável a das séries de nefrectomia aberta.
- Comentário
Editorial
O artigo envolve uma das maiores séries de nefrectomia de doador
vivo por via laparoscócipa. O estudo é realizado de maneira
detalhada, comparando os resultados do procedimento laparoscópico
com a cirurgia aberta convencional. São avaliados parâmetros
como tempo operatório, perda sanguínea e tempo de isquemia,
bem como o comportamento dos rins a longo prazo. Não houve diferença
estatisticamente significante quanto à sobrevida dos rins entre
as duas técnicas. A via laparoscópica promove menor agressão
ao doador devido ao menor porte das incisões cirúrgicas,
fazendo com que se use menos analgésicos no pós-operatório
e o paciente retorne rapidamente às atividades diárias.
O desenvolvimento de equipamentos de vídeo-cirurgia para sutura
vascular permitiu a realização de ligaduras rápidas
e seguras do pedículo renal, o que tornou a via laparoscópica
bastante competitiva em relação à via aberta convencional.
Dr.
Marcelo Lopes de Lima
IMAGING
Patterns
of recurrence in renal cell carcinoma
Scatarige JC, Sheth S, Corl FM, Fishman EK
AJR,177: 653-658, 2001
Padrões
de recorrência do carcinoma de células renais
- Objetivos
e Métodos:
Apresentar sobre a forma de um ensaio iconográfico, uma revisão
dos importantes aspectos clínicos do carcinoma de células
renais (C.C.R.), e ilustrar as manifestações comuns e
atípicas da recorrência tumoral e de metástases
que podem ser encontradas durante o seguimento evolutivo da doença.
- Resultados:
Os padrões de recorrência tumoral e/ou de lesões
metastáticas revelados pelo CT espiral foram: a)- recorrência
local na fossa renal, comprometendo, freqüentemente, os músculos
quadrado lombar e psoas e eventualmente a glândula adrenal ipsi-lateral;
b)- adenopatia regional, comprometendo freqüentemente os nodos
próximos ao pedículo vascular; c)- metástases à
distância, em ordem decrescente de freqüência, pulmões
e mediastino, osso, fígado, rim ou adrenal contra-lateral e cérebro;
d)- metástases tardias, descobertas após 10 anos da cirurgia
(sendo pulmões, pâncreas, osso, músculos esqueléticos
e intestino, os sítios mais freqüentemente envolvidos).
- Conclusão:
A evolução clínica do C.C.R., após nefrectomia,
é variável e imprevisível. O exame por CT espiral,
com uso de contraste endovenoso, é o método ideal para
o seguimento dos pacientes com alto risco de apresentar recorrência
ou doença metastática. É de fundamental importância
que os radiologistas que estejam investigando esses pacientes, estejam
familiarizados com os achados clínicos e radiológicos
comuns e atípicos da recidiva e da propagação metastática
da neoplasia.
- Comentário
Editorial
Em nosso meio, é prática comum, seguir os pacientes operados
de C.C.R., através do US abdominal periódico. Como se
sabe, a recorrência local do C.C.R. ocorre em cerca de 5% dos
pacientes, e está associada à ressecção
incompleta do tumor, margens cirúrgicas positivas e metástases
nodais. Os riscos para predizer eventual recorrência ou doença
metástatica são (tamanho do tumor, presença de
trombo tumoral intra-venoso, metástases nodais regionais, alto
grau de Fuhrman ao histopatológico e o padrão sarcomatóide).
Embora freqüentemente utilizado, o US abdominal não é
o exame ideal para seguir estes pacientes, devido às significativas
alterações na anatomia retroperitoneal que ocorrem após
a nefrectomia. Alças de delgado e colon ocupam a loja renal e
impedem a adequada avaliação da loja renal além
de muitas vezes, simularem lesões tumorais.
Este estudo confirma o valor do CT espiral com contraste endovenoso
(tóraco-abdomino-pélvico), como método de eleição
para seguir os pacientes que apresentam alto risco de desenvolver recorrência
tumoral ou doença metastática.
Dr.
Adilson Prando
Testicular microlithiasis: what is it association with testicular cancer?
Bach AM, Hann LE, Hadar O, Shi W, Yoo H, Giess CS, Sheinfeld J, Thaler
H
Radiology, 220: 70-75, 2001
Microlitíase
testicular: qual é sua associação com câncer
testicular?
- Objetivos:
Determinar a prevalência da microlitíase testicular em
pacientes referidos para US escrotal em um centro terciário de
tratamento de câncer e avaliar a associação entre
microlitíase e neoplasia.
- Material
e Métodos: Sonografias testiculares obtidas em 528 homens
foram retrospectivamente revistas para identificar pacientes com achados
sugestivos de microlitíase, massas intratesticulares e alterações
intratesticulares heterogêneas. A associação de
achados sonográficos e dados histopatológicos disponíveis
em 95 pacientes foi avaliada. Análise estatística foi
realizada para determinar a relação de câncer testicular,
massa intratesticular, e microlitíase.
- Resultados:
48 (9%) dos 528 pacientes tinham microlitíase; 13 deles (27%)
tinham câncer testicular. Dos 480 pacientes sem microlitíase,
38 (8%) tinham câncer testicular. Noventa pacientes apresentavam
massa testicular, dos quais 23 (26%) com microlitíase. Quarenta
e três (12 com microlitíase) pacientes com massa eram portadores
de câncer testicular, 43 (10 com microlitíase) possuiam
achados benignos ou histopatológicos malignos não testiculares,
e quatro (um com microlitíase) não tinha achados patológicos.
- Conclusão:
Microlitíase testicular é altamente associada com câncer
testicular confirmado, bem como com evidência ultra-sonográfica
de massa testicular.
- Comentário
Editorial
Esta é a maior série de pacientes adultos com microlitíase
detectada ao US, em uma instituição, que é o Memorial
Sloan-Kettering Cancer Center, New York.
O estudo é interessante, visto ter utilizado transdutor de alta
freqüência (7.5 10 mHz) e realizado em uma instituição
de referência para câncer.
Enquanto a microlitíase é descrita em 0.6% dos homens
com indicação clínica para US testicular, o estudo
mostrou prevalência de 9%, refletindo o padrão de atendimento
de um centro especializado.
É oportuno o artigo quando há citações da
literatura recente relacionando o risco de tumor com a intensidade da
microlitíase. A importante mensagem é que microlitíase
testicular está altamente associada com câncer testicular
comprovado.
Não há ainda um estudo que demonstre o risco de se desenvolver
câncer em pacientes com microlitíase.
Dr.
Nelson M. G. Caserta
ONCOLOGY
Transurethral
resection of muscle-invasive bladder tumors: 10-year outcome
Herr HW
J Clin Oncol, 19: 89-93, 2001
Ressecção
transuretral de tumor vesical invasivo: resultados em 10 anos
- Objetivo:
Avaliação dos resultados do tratamento dos tumores invasivos
da bexiga, através, exclusivamente, da ressecção
endoscópica.
- Material
e Métodos: No peródo de 1979 a 1989 foram atendidos
463 pacientes novos, portadores de tumor vesical de células transicionais
e com invasão muscular, consecutivamente manejados da seguinte
maneira: 432 (93%) realizaram ReRTU, observando-se ausência de
lesão (TO) ou apenas comprometimento da lâmina própria
(T1) ou presença de Tis, em 151 (35%) casos. A este grupo ofereceu-se
a opção do tratamento standard (cistectomia radical) ou
preservação da bexiga. A cistectomia foi escolhida por
52 pacientes (23 TO e 29 T1) e 99 optaram por vigilância cistoscópica
(73 TO e 26 T1), e eventual cirurgia radical de resgaste, em caso de
progressão.
- Resultados:
A sobrevida doença específica, em 10 anos, foi de
76% (75 pacientes) no grupo tratado por RTU (99), sendo que 24% (24
pacientes) foram a óbito. Tal índice foi comparado aos
que realizaram cistectomia imediata (52), dos quais 71% (37) encontravam-se
vivos e livres de doença e 29% (15) faleceram em conseqüência
do tumor. No grupo de 99 pacientes, nos quais a bexiga foi preservada,
82% de 73 pacientes com TO pós ReRTU sobreviveram, contra 57%
dos 26 pacientes com T1 (p = .003). Naqueles em houve recidiva tumoral
com invasão muscular, 34 (34%) foram curados pela cistectomia
de resgate e 16 (16%) sucumbiram à doença.
- Conclusão:
A
RTU radical como tratamento dos tumores transicionais invasivos da bexiga
obteve sucesso nos casos selecionados em que a ReRTU não demonstrou
evidência de lesão (T2).
- Comentário
Editorial
A tentativa de preservação da bexiga, nos tumores invasivos,
tem sido ansiosamente perseguida pelos urologistas, através de
várias modalidades terapêuticas, mas sem sucesso a longo
prazo. Aqueles que evitaram a cirurgia radical tiveram melhor qualidade
de vida, porém relativa em função das recidivas
e freqüentes re-tratamentos, além do ônus do aparecimento
de metástases precoces, geralmente comprometendo suas vidas.
Tal conduta, baseando-se apenas na RTU, como enfoque inicial de tratamento
nos tumores invasivos, tem sido aceita por poucos autores e com resultados
díspares. Por exemplo, verificou-se apenas 40% de sobrevida em
5 anos nos tumores invasivos tratados por RTU radical (1), ainda com
a dúvida de que os casos com melhor evolução poderiam
atualmente ser considerados como T1a. Outros, com resultados semelhantes
aos do autor, acompanhando 59 pacientes por 10 anos, e com sobrevida
livre de doença em 74.5%, manejados apenas pela RTU, tiveram,
em contrapartida, 28% de progressão, dos quais somente 29.7%
foram resgatados pela cistectomia.
O presente trabalho mostra resultados otimistas, incluindo a ReRTU na
rotina dos tumores invasivos, 6 semanas após a inicial. Entretanto,
precisamos ressaltar certas tendências, como ausência de
descrição dos tumores originais, se múltiplos ou
solitários, presença ou não de carcinoma in situ
(Cis) concomitante, se maiores de 4cm, se papilares ou sésseis
e, possivelmente, se foram sub-estadiados. Quantos seriam realmente
T1a, com menor chance de invasão muscular ou T1b? Tal classificação,
baseada na invasão superficial ou profunda da muscularis mucosae
não foi objeto deste estudo, por tratar-se de sutileza mais atual.
Creio que o caminho para elevar os índices de cura desta grave
doença, conforme a tendência em voga, seria a identificação
mais conclusiva do T1G3, trazendo maior segurança e amparo à
indicação da cistectomia precoce. Porém, a conduta
proposta por Herr, além da lembrança da RTU radical, tema
quase esquecido pelos urologistas, poderia ser aceita em casos melhor
selecionados (T1a), em pacientes mais idosos, ou com maior comprometimento
clínico.
Referências
1. Barnes RW, Dick AL, Hadley HL, et al:Survival following transurethral
resection of bladder carcinoma. Cancer Res 37: 1895-1899, 1977.
2. Solsona E, Iborra I, Ricos JV, et al: Feasibility of transurethral
resection for muscle infiltrating carcinoma of the bladder:Long-term follow-up
of a prospective study. J Urol 159: 95-99, 1998.
Dr.
Aloysio Floriano de Toledo
Do bacteriostatic urethral lubrificants affect the clinical efficacy
of intravesical Bacillus Calmette-Guérin therapy?
Lortzer H, Brake M, Horsch R, Keller H
Urology, 57: 900-905, 2001
O uso
de lubrificantes bacteriostáticos uretrais afetam a eficácia
do BCG intravesical?
- Objetivo:
Investigar
o efeito de lubrificantes bacteriostáticos uretrais na eficácia
clínica do BCG intravesical nos tumores da bexiga.
- Métodos:
No período de julho de 1987 a agosto de 1999, 389 pacientes
com tumores superficiais da bexiga (pTa multilocular, maior de 2cm,
recorrente), pT1, pTis, receberam tratamento adjuvante com BCG intravesical,
em regime de 6 semanas, após completar a ressecção
do tumor vesical.
Retrospectivamente, foi analisada a possibilidade de redução
da eficácia do BCG no tratamento do tumor vesical, causada pelo
lubrificante.
Dessas forma, foram constituídos 2 grupos: grupo 1, de homens
(n = 317, 81.5%), nos quais foram aplicados 11 mL do lubrificante (Instillagelâ,
contém chlorhexidina como bacteriostático) e o grupo 2,
de mulheres (n = 72, 18.5%) em que o BCG foi aplicado sem o uso do lubrificante.
Os dois grupos eram similares quanto aos parâmetros estudados.
Os pacientes foram seguidos, em média, por 54 meses (4 a 143
meses).
- Resultados:
Do total de 389 pacientes, 90 (23.1%) apresentaram recorrência;
73 (23%) no grupo que fez uso do lubrificante e 17 (23.6%) no que não
usou lubrificante uretral. O tumor apresentou progressão em 14
casos (4.4%) no grupo sem lubrificante e em 8 (11%) no grupo em que
não foi utilizado o lubrificante (p = 0.043).
- Conclusão:
O emprego de lubrificante bacteriostático uretral, prévio
à instilação de BCG, não diminuiu o efeito
imunoterápico do BCG intravesical. Com o objetivo de diminuir
possível trauma uretral, o lubrificante é, especialmente,
recomendado no homem.
- Comentário
Editorial
O BCG é, até o momento, o principal tratamento profilático
nos tumores superficiais da bexiga. Os esquemas de aplicação
são diversos, havendo maior propensão para o uso em ciclos
de 6 semanas, com uma aplicação semanal, e revisão
endoscópica aos 3 e 6 meses após. No caso de recorrência
ou de citologia positiva, repete-se o ciclo de 6 aplicações.
Alguns autores recomendam terapia de manutenção, e a que
apresenta melhores resultados é a proposta por Lamm, que utiliza
ciclos de 3 semanas, a cada 6 meses, e durante 2 anos. Existem variações
deste esquema de manutenção, quer quanto à periodicidade
quer quanto o tempo de manutenção.
O tratamento com instilações de BCG intravesical obedece
a severas recomendações quanto à possível
absorção do medicamento pela mucosa uretrovesical. Dessa
forma, deve-se aguardar de 3 a 4 semanas após a ressecção
do tumor para iniciar a aplicação de BCG. Além
disso, qualquer trauma uretral deve ser evitado, e caso venha a ocorrer,
a instilação deve ser suspensa. A razão disso baseia-se
nas graves conseqüências advindas da absorção
do BCG, inclusive com risco de vida.
A proteção da uretra, principalmente no sexo masculino,
é imperativa. A recomendação é o uso, em
quantidades generosas, de lubrificantes uretrais antes de manipular
a uretra para a aplicação do BCG, no tratamento dos tumores
superficiais da bexiga.
Dr. Nelson Rodrigues Netto Jr.
Randomized
phase III trial of neoadjuvant MVAC + cystectomy versus cystectomy alone
in patients with locally advanced bladder cancer: SWOG 8710 (INT-0080)
Natale RB, Grossman HB, Blumenstein B, Vogelzang N, Trump DL, Speights
VO, de Vere White R, Crawford ED
Proceed ASCO 2001, Abstract #3; http://www.asco.org/prof/me/html/01abstracts/0021/0021.htm
Estudo
randomizado de fase III de MVAC neoadjuvante + cistectomia versus cistectomia
isolada em pacientes com câncer de bexiga localmente avançado:
SWOG 8710 (INT-0080)
- Objetivos:
Determinar se 3 ciclos de quimoterapia antes da cirurgia melhora a sobrevida
de pacientes com câncer de bexiga avançado .
- Material
e Métodos:
Estudo randomizado de fase III com 307 pacientes com tumor de bexiga
T2-4a,N0,M0, com função renal, hepática e hematológica
normal, sem limite de idade. Objetivo principal é a sobrevida.
Os pacientes foram submetidos a tratamento quimioterápico com
MVAC (Metotrexate, Vimblastina, Doxorrubicina e Cisplatina) por 3 ciclos
antes da cistectomia versus cistectomia imediata.
- Resultados:
153 pacientes foram randomizados para o grupo MVAC e 154 para o grupo
cistectomia. Do grupo MVAC, 48 pacientes tiveram remissão completa,
com ausência patológica de doença na peça
operatória. Não houve mortes relacionadas à quimioterapia;
após um seguimento de 7.1 anos, houve 85 mortes no grupo MVAC
e 94 no grupo cistectomia isolada; a sobrevida no grupo MVAC foi estatisticamente
superior O hazard ratio foi 0.74 (intervalo de confiança de 95%
0.55-0.99, p = 0.027); a sobrevida mediana para o grupo MVAC é
de 6.2 anos versus 3.8 anos para a cistectomia isolada.Toxicidade grau
4 ocorreu em 55 pacientes recebendo MVAC, sendo 90% neutropenia isolada;
houve apenas um caso de neutropenia febril. Não houve diferença
na incidência de complicações cirúrgicas.
A sobrevida foi superior no grupo tratado com MVAC, hazard ratio de
0.74 (95% CI 0.55-0.99, p = 0.027) e sobrevida estimada de 6.2 e 3.8
anos, respectivamente.
- Conclusão:
Este estudo oferece fortes evidências de benefício de sobrevida
para pacientes com câncer de bexiga tratados com quimioterapia
neoadjuvante.
- Comentário
Editorial
Este trabalho foi apresentado no congresso da ASCO (American Society
of Clinical Oncology) no ano 2001, e traz resultados muito fortes para
uma mudança na prática clínica.
É um estudo randomizado de boa qualidade, com objetivo adequado,
tamanho da amostra suficiente, multicêntrico e de longo seguimento
(mais de 7 anos). Os resultados são confiáveis. Há
uma demonstração de ganhos de sobrevida importantes em
pacientes com câncer de bexiga avançado com o uso de MVAC
antes da cirurgia.
O índice de complicações graves é baixo,
não houve mortes causadas pela quimioterapia, e somente um caso
de neutropenia febril. Os outros casos de toxicidade grau 4 resolveram-se
espontaneamente. O estudo oferece as melhores evidências disponíveis
para o tratamento do câncer de bexiga localmente avançado.
Até que novos estudos apareçam, os pacientes com esta
patologia devem ser tratados com quimioterapia neoadjuvante. Uma possível
abordagem para evitar a neutropenia é o uso de fatores estimuladores
de colônias, concomitante à quimioterapia.
Dr.
Otávio Clark
UROLOGICAL
NEUROLOGY
Bladder
neck incompetence in patients with spinal cord injury: significance of
sympathetic skin response
Rodic B, Curt A, Dietz V, Schurch B
J Urol, 163: 1223-1227, 2000
Incompetência
do colo vesical em pacientes com lesão medular: significado da
resposta simpática cutânea
- Objetivo:
Investigar se a resposta simpática cutânea perineal representa
um meio diagnóstico acurado para avaliar a competência
do colo vesical.
- Material
e Métodos:
Foram comparadas as respostas cutâneas simpáticas perineais,
podálicas e manuais, com estudos urodinâmicos em 90 pacientes
com lesão medular (70 homens, 20 mulheres), sendo que 24 tinham
lesões de cone medular e 66 lesões mais altas.
- Resultados:
Houve correlação entre a ausência de resposta simpática
perineal e lesões entre T10-L2 em 46% dos casos e em 72% dos
casos onde havia resposta simpática perineal, mas ausência
de resposta manual ou podálica. Também houve correlação
entre a ausência de resposta simpática perineal e incompetência
do colo vesical nos pacientes com lesões entre T10-L2 (80%).
Apenas um paciente (1/24; 4%) com lesão de cauda eqüina/cone
medular tinha uma resposta simpática perineal alterada, mas este
tinha o colo vesical competente.
- Conclusões:
O registro da resposta simpática perineal, manual e podálica,
é um método adequado para a avaliação da
função simpática tóracolombar, e pode ser
utilizada para avaliação da competência do colo
vesical em pacientes com lesão medular.
- Comentário
Editorial
Os autores apresentam um estudo muito elegante, demonstrando que a avaliação
da resposta eletrofisiológica cutânea perineal pode, indiretamente,
avaliar a competência do colo vesical. Trata-se de um mecanismo
esfincteriano importante e, principalmente, comandado pelo sistema nervoso
autômono, divisão simpática. Como todo trabalho
bem feito, questionamentos ad hoc acabam surgindo. Primeiro: o desenho
do estudo poderia ser aplicado a mulheres com incontinência urinária
de esforço, correlacionando a resposta simpática, presença
de um colo vesical aberto à urodinâmica e grau de incontinência
urinária? Segundo: pacientes com lesão medular e disfunção
ejaculatória demonstrariam alterações simpáticas
cutâneas semelhantes? E, por último: pacientes com neuropatias
periféricas foram excluídos do estudo. Não seria
extremamente interessante aplicar um protocolo similar em pacientes
diabéticos, por exemplo, na avaliação tanto de
disfunções miccionais quanto de disfunções
ejaculatórias?
Dr. Aderivaldo Cabral Dias Filho
The intravesical potassium sensitivity test and urodynamics: implications
in a large cohort of patients with lower urinary tract symptoms
Bernie JE, Hagey S, Albo ME, Parsons CL
J Urol 166: 158-161, 2001
Teste
do potássio e urodinâmica: implicações em uma
grande amostra de pacientes com sintomas do trato urinário inferior
- Objetivos:
Obstrução infravesical causada por hiperplasia prostática
benigna (HPB) é o diagnóstico mais comum em pacientes
idosos com sintomas do trato urinário inferior. No entanto, esses
sintomas também podem ocorrer na cistite intersticial. Determinou-se
quando o teste do potássio é útil para distinguir
HPB de cistite intersticial. Também testamos a hipótese
de que os pacientes com teste positivo terão urodinâmica
compatível com cistite intersticial.
- Material
e Métodos:
O teste de sensibilidade ao potássio foi realizado em 526 (95%)
homens e 25 (5%) mulheres com sintomas do trato urinário inferior
e submetidos ao estudo urodinâmico. Os parâmetros da urodinâmica
nos pacientes com teste do potássio negativo e positivo foram
comparados.
- Resultados:
16% (89 de 551) dos pacientes tinha o teste do potássio positivo.
Comparado com os pacientes com teste negativo, estes com o teste positivo
eram mais jovens (61 x 64 anos, p = 0.03), tinham urgência com
volume menor (108 x 182 ml, p < 0.0001), menor capacidade vesical
(343 x 436 ml, p < 0.0001) e volume residual mais baixo (49 x 95
ml, p < 0.0001). Os parâmetros da urodinâmica nos 24%
(6 de 25) de mulheres com teste de sensibilidade ao potássio
positiva foi semelhante ao dos homens que também tinham teste
positivo.
- Conclusões:
o resultado da urodinâmica em pacientes com sintomas do trato
urinário inferior que apresentam teste do potássio positivo
são significativamente diferente daqueles com teste negativo,
e são semelhantes aos achados de cistite intersticial. A cistite
intersticial deve ser considerada em pacientes com sintomas e teste
positivo. A combinação do teste do potássio com
a urodinâmica, pode ser útil para o rastreamento de pacientes
com sintomas do trato urinário inferior, para distinguir os sintomas
causados ou pela cistite intersticial ou HPB.
- Comentário
Editorial
Este interessante estudo mostra que o teste do potássio, um exame
que não é muito usado em nosso meio, porém de fácil
execução, pode ajudar a elucidar alguns casos de HPB com
urodinâmica sem obstrução que apresentam sintomas
principalmente irritativos. Além disso, poderia ser usado no
pós-operatório de pacientes que evoluíram mal,
isto é, com permanência dos sintomas após realização
de ressecção endoscópica da próstata, na
tentativa de ajudar na resolução desses casos de difícil
tratamento.
Dr. Maurício Rodrigues Netto
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